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Quando a mulher conhece o seu valor

O livro de Ester foi um dos últimos livros a ser aceito no cânon da bíblia hebraica. Dele não foi encontrado nenhum pergaminho nos Manuscritos do Mar Morto, nas cavernas de Qumran. Foi energicamente refutado por Lutero, por que na sua versão grega não se encontrar, em nenhum dos seus 10 capítulos, uma vez sequer a citação da palavra Deus. Em contrapartida, foi o único livro da Bíblia que teve a sua divulgação proibida na Alemanha nazista na primeira metade do século passado, e a festa do Purin, anunciada por ele, completamente erradicada dos seus territórios. 

Do que Hitler teria tanto medo? De um simples livro que narra a história da salvação do povo judeu, condenado ao genocídio, por uma jovem mulher que se fez rainha na poderosa corte de Xerxes. A personagem central é Ester, dela se conhece a origem, os pais, o tutor e todos os detalhes que enriquecem a conhecida história. Nas celebrações onde se comemora o Dia Internacional da Mulher, os atributos de Ester são amplamente enaltecidos e o grande amor demonstrado para com o seu povo, é motivo de inspiração e orgulho para as mulheres, que continuam a dar às filhas nomes das heroínas da Bíblia, onde o nome de Ester figura entre os principais. Mas por trás do palco se revela outra heroína bem diferente. Uma, que raramente é citada ou mesmo lembrada pelos leitores da Bíblia. Vasti, a primeira esposa de Xerxes I. 

Diz a narrativa do primeiro capítulo do livro de Ester que o rei, contente por causa do vinho, para não dizer completamente bêbado, mandou que Vasti viesse a sua presença com a coroa real, para que seus amigos a contemplassem em toda a sua beleza. Uma ordem que poderia ser facilmente obedecida por qualquer mulher, quanto mais, pela esposa de um rei, cuja autoridade e domínio se estendiam da Etiópia à índia. Afinal, usar a coroa era coisa própria de uma rainha. O que a tradução do texto não revela explicitamente, é o fato de que Assuero ordenou que Vasti se apresentasse aos seus convidados vestindo apenas e tão somente a coroa real. Se assim não fosse, de que outra forma eles poderiam contemplá-la em toda a sua beleza? 

A corajosa recusa de Vasti gerou uma polêmica que atravessa séculos. Deveria a mulher ser submissa ao homem em todas as suas ordens por mais estapafúrdias que fossem? Seria a autoridade de um homem, por mais poderoso que fosse, soberana sobre a integridade da sua mulher? Vasti disse que não, e pagou um alto preço pela sua decisão. Foi destituída do seu trono e legada ao esquecimento, mas sua atitude ecoou em todo reino e se tornou referência por toda a História. 

O fundamento de tudo que as mulheres têm pleiteado ao longo dos séculos foi estabelecido por Vasti há, pelo menos 2500 anos. Tanto na história bíblica quanto na secular a atitude de Vasti é única, não encontrando paralelo nem quanto à sua contundência, nem quanto à sua repercussão. 

No Dia Internacional da Mulher, quando se enaltece os feitos das grandes heroínas das conquistas dos direitos da mulher, que a pioneira esquecida de todos esses movimentos, a rainha Vasti, seja lembrada. Mesmo que não conheçamos a sua origem nem seu triste destino. Mesmo que não conheçamos o deus a quem ela cultuava. Mesmo que não se tenha os pormenores da sua ascensão ao trono, que seja enaltecida, aquela que, segundo o fidedigno relato bíblico, sustentou, com prejuízo próprio, a posição que o Deus verdadeiro estabeleceu na criação: uma atitude de companheira igualmente digna e ativa contra todas as formas de humilhação e constrangimento, mesmo as que pareçam mais sutis. 

(Este texto foi escrito por mim há pelo menos 30 anos, e já era considerado perdido. Porém, por meio da boa vontade de uma amiga de juventude, Eliane Gonçalves, ele retornou às minhas mãos. Obrigado Eliane.)

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