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Juízes da vida plena

A consciência da humanidade é orientada por dois tipos de ética. Uma é a ética social, que é representada pelos ativistas e que denunciam os elementos nocivos à sociedade: As injustiças sociais, a corrida armamentista, o desmatamento, a poluição do ar, a contaminação dos rios e dos oceanos, a fome, a segregação racial, entre outras. A outra ética seria a ética espiritual, da qual a grande promotora é a igreja. Esta faz observações severas quanto à honestidade, à temperança, à idoneidade moral, à humildade, à reta conduta, à perseverança e coisas afins. Estranho é, aos olhos de quem observa de fora estes dois tipos de comportamento ético, que eles dificilmente correm juntas ou em igual intensidade em uma pessoa ou mesmo em uma organização, seja ela de que tipo for. Temos hoje movimentos que participam eficazmente na denúncia das práticas contrárias ao bem comum, mas que em nada se importam com a vida moral das pessoas. Por outro lado, temos também organizações seculares que reinventam práticas espirituais, mas que não estão nem aí para o que acontece na esfera social do mundo. 

Pode até parecer que algum organismo não citado atue nos dois sentidos, mas suas atuações privilegiam bem mais um dos lados. Isso pode ser constado pelo simples fato de não termos em nosso tempo um nome, quer seja de homem, de mulher ou de uma instituição que seja reconhecido pela sua atuação equilibrada nos dois terrenos ao mesmo tempo. Eu sempre pensei que este fosse um mal da modernidade, das sociedades bem organizadas que vingaram nos dois ou três últimos séculos. Confesso, inclusive, que já tenho feito algumas pregações neste sentido, acusando a modernidade deste vício, na tentativa de alertar as comunidades a quem me dirijo para esse mal que até então julgava ser mais ou menos recente. Porém, lendo calmamente o livro de Juízes na Bíblia Sagrada, pude perceber o quanto eu estava errado nessas pregações. O quanto eu avaliei mal a incapacidade humana de focar em uma só tomada todas as necessidades pertinentes à vida humana. Quanto eu fui cego diante do óbvio, que um escritor há dois mil e seiscentos anos antes de mim já havia percebido. 

Este livro cobre o período histórico anterior à monarquia de Israel. Um período em que as tribos judaicas eram independentes e sem um governo único. Esta situação impedia que uma consciência nacional fosse formada, como também facilitava com que os povos vizinhos os dominassem, saqueassem as suas colheitas e escravizassem seus filhos. Nos períodos mais críticos, Deus levantava homens e mulheres para orientar e guiar novamente o povo à liberdade. Embora o título de juiz não fosse apropriado, pois estas pessoas não tinham cargos vitalícios e sequer eram oficialmente investidas dessa autoridade. Contudo, reconhecemos a crucial importância delas para a História da Salvação. Mas ainda assim, podemos observar que as suas atuações não abrangeram as duas necessidades básicas do povo de Israel: O direito à liberdade e a consciência do seu chamado por Deus. 

Juízes, como Jair, Abesã e Elon, primaram os seus governos por julgamentos justos e pela preservação moral. Estes demonstraram com as suas vidas os bons exemplos que todos deveriam seguir. Porém, pouco se importaram em assegurar a liberdade do povo. Por outro lado, temos Sansão, Abimalec e Aod, que defenderam a nação com as suas próprias vidas, mas sua conduta moral deixava bastante a desejar. Esta é mais uma constatação de que em três mil anos de civilização não aprendemos nada. E para piorar, não esquecemos nada. Continuamos século após século repetindo a nossa triste história de equívocos. Permanecemos convictos na nossa visão estreita e parcial, muito embora na certeza de que fomos criados à imagem de um Deus que nos quer como parceiros na construção da história do mundo. Um Deus que nunca privilegiou um segmento da vida em detrimento de outro, pois formou o homem do pó da terra, insuflando-lhe o seu Espírito. Para reafirmar definitivamente essa realidade, enviou seu próprio Filho para nos mostrar que equilíbrio entre a vida espiritual, social e moral e não só possível, mas que é a única forma em que a vida realmente compensa ser vivida. Um Deus que convoca indistintamente a todos nós, para que sejamos juízes de uma vida plena. 

Em um tempo de carência extrema, exatamente no dia 24 de maio de 1738, Deus despertou um homem do seu ativismo religioso e lhe deu consciência da necessidade de um equilíbrio entre os dois tipos de ética citados anteriormente. John Wesley não fundou igreja, não criou mecanismos de evangelização e jamais incitou o proselitismo convidando pessoas de outras denominações para a sua igreja. Ou seja, não se pode classificar o movimento chamado Clube Santo de um arroubo de religiosidade. Se Wesley pregou nas minas de carvão, criou também nas comunidades instrumentos para a valorização social do ser humano. Se exigia dos seus pregadores a leitura sistemática da Bíblia, apoiou de corpo e alma a iniciativa de Robert Raiks de uma escola de ensino secular para crianças que funcionava aos domingos.

É nessa hora é que fico constrangido diante deste inominável legado do povo chamado Metodista, no qual me incluo. Pois o que se vê são seus pastores tomando partido de um ou de outro político. Acusando ferrenhamente algumas autoridades e defende com unhas e dentes outras. Não vejo, da parte destes, qualquer ação concreta contra a corrupção que atravessa gerações; nenhuma iniciativa contra as leis que prejudicam as classes menos favorecidas; o aumento e a criação de novos impostos, apenas para enriquecer o estado e sem benefício algum para o contribuinte; nenhuma manifestação fundamentada no evangelho em favor da moralidade, da ética e da justiça. 

Quando o meu amigo Rev. Jorge Cruz esta semana postou no Facebook o pensamento: Crer correto produz atos corretos! Foi imediatamente contestado por uma conjugação de valores que prega que o povo é sempre o grande culpado pelo descaminho nos dois sentidos dos quais se vale a consciência humana. Muitos desses de baseiam na profecia de Oseias, quando diz: O meu povo está sendo destruído porque lhe falta conhecimento. Oseias 4:6 Texto que lido fora do contexto, realmente condena o homem pela degradação do planeta. Porém, não têm a coragem de ler o restante do versículo que diz: Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos. 

24 de maio vem aí. Vamos continuar sendo juízes que escolhem o lado de uma ou de outra necessidade do ser humano, ou vamos nos deixar sermos possuídos pela consciência que alavancou Wesley quando naquele 24 de maio entendeu que Jesus morreu pelo homem todo e por todos os homens?

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