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Perante a face do Senhor que vem

Salmos 98 

Perguntaram a uma menina de cinco anos o que ela estava desenhando. Deus, disse ela. A mãe a contestou dizendo: Como você pode desenhá-lo se ninguém o viu e não se sabe como ele é? Respondeu a menina: Daqui a poucos minutos vocês saberão.

O grande desejo do homem justo é justamente este: Enxergar de uma forma ainda que não bem definida, o rosto de Deus. Estar frente a frente como ele, na linguagem bíblica: perante a sua face. Se por um lado, esta vontade ou necessidade nasce quase que espontaneamente, por outro foi muito bem sedimentada por promessas e ao longo da história das religiões e a fé judaico-cristã não seria diferente neste aspecto. As Escrituras mostram que o desejo humano de ver a face de Deus, foi sempre maior que a própria revelação de Deus para com os homens. O fato é que Deus se revelou muito menos do que gostaríamos.

Até mesmo a mais bem documentada e detalhada teofania, a visão de Deus na corte celestial que Isaías teve quando foi ao Templo, não nos é suficiente. Ela descreve o ambiente, as vestes, a expectativa, a tensão, os seres celestiais e até mesmo as consequências. Mas não traz uma linha sequer, descrevendo ou dando pistas de como é de fato o contorno do rosto do Deus que se revelava ali, naquela hora. Mesmo sem contar com este dado essencial, ainda assim a literatura bíblica é enfática e em colocar na boca de várias pessoas a frase que marcou a grande virada de mesa na vida de Isaías: “Eu vi o Senhor.” Dentre estes, podemos contar a visão de Abraão, que foi em dose tripla; de Jacó, que não somente viu, mas que lutou com ele; de Moisés, cujo rosto refletiu a sua glória, e Jó, que foi desafiado a encará-lo. Isso para não entrar nas narrativas atuais de pessoas que, plagiando a nossa inocente desenhista e nada tendo de inocente, servem-se bem deste expediente para promoverem-se como visionárias exclusivas e portadoras únicas da derradeira e definitiva revelação de Deus para os homens.

Mas a intenção é falar do desejo legítimo de estar perante a face de Deus, que é o grande motor da nossa fé. E não pode haver momento mais apropriado do que o Advento para se falar da chegada daquele que veio para nos mostrar a verdadeira face de Deus. Contudo, seria proveitoso que ao falarmos desta encarnação, alinhássemos as nossas expectativas à mensagem central da que é para nós a sua Palavra, para que não venhamos a nos equivocar com preconceitos que a precipitação ou a maldade humana tentam de todos os meios deformar.

A primeira condição para vermos a face de Deus é anunciarmos a sua chegada, porque a promessa é que o Senhor vem neste Natal. Muito diferente de tentar fazer uma profecia apocalíptica marcando uma data para o fim dos tempos, a certeza de que ele vem deve ser uma marca importante para nós neste Natal. Curiosamente são duas pessoas de idade avançada, de quem já não deveriam esperar mais nenhuma novidade é que surgem as declarações mais contundentes: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! Isabel enxerga na simples visão de uma mulher grávida, a mãe do seu Senhor, reconhecendo ser Maria a maior mulher que a existência humana jamais conheceu. Através desta revelação ela declara toda a sua expectativa na chegada, confirmando que no tocante à responsabilidade que coube à Maria, Jesus vem. Isabel tinha diante dela a pessoa que Deus havia separado para se fazer carne e habitar entre nós. 

Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo segundo a tua palavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação, que preparaste na presença de todos os povos. Simeão glorifica a Deus pela sua condescendência que lhe permite a visão do Salvador como a última da sua longa existência. Desse modo, o velho e cansado Simeão faz do seu derradeiro anúncio, o mais excelente dentre todos os de sua vida. O anúncio que Deus leva a cabo a sua promessa e que esta, mesmo sendo encarnada numa frágil criança, não tem como ser contida, pois alcançará a toda humanidade.

A segunda condição é alastrarmos o vírus que deve contagiar incondicionalmente a todos. O Natal é para todo mundo, porque no presépio Deus quebra todas as barreiras que existiam entre anjos e pastores, astrólogos babilônicos e sacerdotes judeus, homens e animais, céus e terra. É este sincretismo incontrolável que nos garante com a máxima convicção que o Natal vem indiscriminadamente para todo o universo. Simeão e Ana são a prova de que ninguém é velho demais; os magos confirmam que ninguém está distante pela sua raça ou que fica de fora pela religião que professa; os pastores testemunham que ninguém é excluído por sua posição social. Não sabemos se existe vida em outro planeta, mas se houver podemos ter a certeza absoluta de que até mesmo os homenzinhos verdes celebram a chegada do Filho de Deus que veio a um obscuro planeta azul que possui uma única lua e que fica num sistema cujo sol é amarelo.

A terceira condição: precisamos estar atentos para reconhecer efetivamente a face de Deus. Na ponta oposta da sua vida terrena, após ter ressuscitado, Jesus faz várias aparições que foram testemunhadas por pessoas diferentes. A Maria, sua mãe, reapareceu como um jovem de vestes brancas; a Madalena, como coveiro; aos caminhantes de Emaús, como um estrangeiro ignorante; a Simão Pedro, como um especialista em pesca. Por que Jesus teve a meticulosa preocupação de se mostrar para pessoas diferentes de modos diferentes e com rostos diferentes? Dois motivos ocorrem: Primeiro, porque não queria fixar a sua imagem como única, e a segunda, é porque queria conservar a lembrança de si mesmo refletida em todos os rostos. Sua última mensagem sem palavras foi esta: Querem ver a face de Deus? Olhem nos rostos das pessoas comuns. Querem ver como é o criador? Olhem para as suas criaturas. Não se enganem com visões mirabolantes de seres especiais ou de manifestações espetaculares de pretensos escolhidos, Deus está no próximo. E esta é uma certeza que preocupa, porque querendo ou não, nós vamos ver a face de Deus neste Natal. Podemos até não reconhece-lo ou mesmo não festeja-lo, mas que ele vai estar em nosso meio é certeza de que vai.

A última condição é que não basta somente reconhece-lo na multidão, é preciso saber como ele é de fato. A doutrina triunfalista prega que o grande presente de Jó foi receber em dobro tudo o que tinha anteriormente. Mas uma análise mais consciente e menos interesseira vai perceber que o seu hino de vitória não enaltece valores e conquistas, mas sim uma nova consciência. Seu maior presente foi poder conhecer Deus como ele realmente é. Um Deus para além das superstições, dos achismos, dos que as pessoas dizem e das “definições conclusivas”. 

Neste Natal, mais do que em qualquer outro Natal, precisamos saber como Deus é e o que ele espera de nós. Muitos não sabem o que é verdadeiramente o Natal e o caminho que leva à manjedoura é ainda desconhecido para muitos. Cabe a mim e a você propiciarmos as condições para que pelo menos em nosso universo de atuações ninguém fique fora deste Natal. É como quando as pessoas que nos procuram dizendo que não sabem como Deus é porque nunca o viram, possamos responder com a convicção da menina de cinco anos: Neste Natal, dentro de poucos minutos, vocês saberão.

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