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Símbolos do Natal

Encontrareis uma  criança envolta em faixas e deitada em uma manjedouraLucas 2:8-12 

Para nós cristãos, principalmente aqueles que foram crianças na igreja, a cena dos anjos e pastores nos arredores de Belém é por demais significativa. Não foram poucas as oportunidades que nas celebrações do Natal, ora representávamos os anjos, ora os pastores e quando o elenco era muito grande, até mesmo Ovelhas. É que o povo de Deus, nesta época, quase que instintivamente procura trazer à memória um pouco dos simbolismos daquela que é, sob todos os aspectos, a mais maravilhosa história jamais contada. A história do Deus menino, do Deus que se fez carne e habitou entre nós. Curioso que a palavra habitar no hebraico é mais significativa do que na nossa língua. O texto diz que Deus tabernaculou, montou a sua tenta entre nós. Por conta disso, o episódio dos anjos e pastores têm lugar garantido como importante símbolo do Natal.

A tentativa válida de contrapor à comemoração do Natal como no hemisfério norte, onde os símbolos são neve nas árvores, pinheiros, nozes, avelãs, coisas próprias das regiões frias, não deve ser apropriada para o nosso calor de 42º. Quem sabe, se não fôssemos tão intransigentes, não comemoraríamos um Natal tipicamente brasileiro, com marcas e símbolos próprios de um país tropical? Mas nós somos colonizados, trazemos dentro de nós uma forte herança do protestantismo americano que impôs os seus próprios símbolos como os símbolos genuínos do Natal. Como por exemplo: Papai Noel, renas puxando trenós, perus de Natal etc. Mas independentemente de qualquer tradição ou região, o Natal, em si, possui sinais próprios. Sinais autênticos, que não foram forjados por nenhuma cultura. Sinais como aquele que foi dado aos pastores, naquela noite fria de Belém: Encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em uma manjedoura. Este é um dos sinais que não devemos somente reviver ou mantê-los vivos em nossa memória, mas devemos, acima de tudo, estimular as nossas crianças, para que elas tenham a oportunidade de fazer parte, por meio das asas dos anjos ou do cajado dos pastores, da memória do Natal, que é todo um universo de marcas, símbolos e lembranças daquela humilde manjedoura. 

Uma das marcas imutáveis do Natal é o censo que César Augusto mandou levantar em todo o Império Romano. Cesar queria saber quantos eram os seus súditos, onde viviam e o que produziam. Era um dado importante para o governo romano, porque o censo não tinha o intuito de promover o povo socialmente. Não visava conhecer as reais necessidades do povo ou como supri-las. O censo tinha o caráter exclusivamente opressor. O imperador queria saber quem eram e onde moravam aqueles que poderiam ser mais explorados, o quanto mais de impostos poderia ser cobrado e de onde o Império Romano poderia extrair e concentrar mais riqueza.

É neste contexto que nasce Jesus. O filho de Deus anunciado pelos profetas, prometido desde a fundação do mundo, mas neste censo ele não é merecedor de qualquer distinção. É contado como qualquer um de nós. Nivelado aos explorados e aos oprimidos. Recebe como identificação um X no papel, apenas um número. Passa a ser mais um descaracterizado a viver naquilo que os pensadores chamam de zoológicos humanos.O Natal do censo é um Natal sem rosto e sem identidade. Não é o Natal de alegria e de paz. Não é o Natal do Espírito. É sim um Natal de miséria e opressão. Um Natal de carne e osso e, sobretudo, de muito sangue.

Outra marca perpétua do nosso Natal é a manjedoura. Olhamos as réplicas atuais com admiração, e até com certo sentimento poético. Jesus ali, deitado na manjedoura, cercado pelo boizinho, pelo galinho, pelo porquinho e pelo burrinho. Uma típica cena que retrata a calma e a tranquilidade pastoril. Mas essa ideia de paz harmoniosa desvia a nossa atenção da mensagem real da manjedoura: que Jesus ao nascer foi colocado junto aos animais, em um coxo infectado por excrementos. Ambiente absurdamente impróprio para um frágil recém-nascido. É na manjedoura que Jesus perde aquele pouco da humanidade que o censo do imperador romano lhe havia conferido e agora passa a não ser mais contado entre os homens e mulheres. Jesus agora é achado entre os animais. Este é o verdadeiro sentido da manjedoura. Esta é mensagem do Natal contida naquela manjedoura. Ali está Jesus, completamente despojado de sua divindade e realeza, despojado até mesmo da sua condição humana. Uma cena radicalmente antagônica à do consumismo que a data passou a representar. É bom que se fale em meio à opulência das comemorações, que na manjedoura Deus não está fazendo um elogio à pobreza. Deus está denunciando em alta voz que, assim como o seu filho unigênito, muitos dos seus filhos estão nascendo e vivendo em condições sub-humanas. Este é o Natal do manjedoura. O Natal que não contempla a harmonia, que não se anuncia pela paz, mas pela total degradação do ser humano.

Outro símbolo do Natal, e talvez este seja o mais trágico, diz respeito ao banho de sangue ocorrido em Belém e em seus arredores que ficou conhecido na história como a matança dos inocentes. O edital de Herodes que promove o assassinato de todas as crianças com menos de dois anos, com o objetivo único de exterminar, ainda no seu berço, o Messias prometido. E agora, Jesus não é nem mais contado. Sua presença, antes ignorada, a partir daquele decreto passa a ser indesejada. Passa a ser caçado como um elemento nocivo à sociedade, como alguém que deve ser eliminado a qualquer custo. Tão nocivo que até mesmo a chacina de inocentes seria justificável. Contra o Príncipe da Paz se levanta todo um exército exterminador. Esta escalada de tragédias, além de fazer com que Jesus e sua família tenham que se refugiar no Egito, torna-o, como dizia o rev. Jonas Rezende, o exilado político mais novo da História.

Somente os mais inspirados profetas puderam antever cena tão absurda. Que lembranças os habitantes de Belém, principalmente aqueles que perderam seus amados filhinhos, passaram a ter do primeiro Natal? A divina música do coro de anjos foi abafada pelos gritos de horror e de dor. Um Natal sem esperança. Mas, infelizmente, este é um poderoso símbolo do nosso Natal.

As aflições de Maria também marcam de maneira muito forte o nosso Natal. Aquela jovem mulher que por achar graça diante de Deus, teve a sua vida virada de cabeça para baixo. Uma gravidez não desejada, o repúdio de seu futuro marido, o parto longe de casa e sem qualquer condição de higiene, as ameaças que pairavam sobre o seu filho, são motivos mais do que suficientes para tornar o Natal de Maria bastante diferente do que é comemorado hoje. Mas faça-se em mim a vontade do Senhor. Tenho para mim que mais do que uma profissão de fé este é um grito desesperado de quem não encontra mais sentido nas circunstâncias e sem esperança se entrega incondicionalmente nas mãos de Deus. O Natal de Maria sinaliza a renúncia e não favor. Sinaliza a irrestrita doação de si mesma contradizendo as garantias e tomada de posse das bênçãos tão propagadas em nosso meio. No Natal de Maria, Deus desce ao mais profundo abismo da miséria humana e de lá faz a sua opção preferencial.

O Natal na visão de Francisco de Assis é um símbolo que vai muito além do nosso Ecumenismo e faz do Natal o símbolo máximo da confraternização universal e do diálogo inter-religioso. No presépio de Francisco podemos detectar na mesma cena: anjos e homens; homens e animais; judeus e magos do Zoroastrismo, ricos e pobres, pastores e reis; céus e terra. A mistura de tudo aquilo que se conhece e até mesmo do que se imagina. Todos a uma voz cantando “Glória a Deus nas alturas”. Mas até mesmo os símbolos positivos nós conseguimos esculhanbar. Se algum dos pregadores apocalípticos contemplasse tal cena afirmaria: O Reino de Deus está implantado definitivamente. Mas bastaria esta pessoa desviar um pouco o olhar para os nossos dias, e veria que no mesmo lugar onde os anjos cantavam o Gloria in Excelcio anunciando paz na Terra, hoje se trava uma guerra contra o absurdo do terrprismo, isso sim, é um tremendo tapa na boca dos anjos.

Mas não nos iludamos que este símbolo ficou gravado apena nas barbáries da antiguidade ou na história de nossos ancestrais. Não nos enganemos que no Brasil as coisas sejam diferentes. Autênticas guerras são travadas diariamente em nossas cidades, mesmos nas mais interioranas. O índice de mortalidade infantil em nosso país é de fazer Herodes se sentir humilhado por promover uma chacinazinha tão restrita. Nossas crianças não são mais colocadas em estábulos, mas sim abandonadas em depósitos de lixo. Alguma coisa está muito errada: ou os anjos não cantaram a música certa ou nós não somos homens e mulheres de boa vontade, porque a paz na Terra não existiu um único dia sequer ao longo destes milhares de anos de história.

Queria acrescentar ainda mais um símbolo, aquele que ficou definitivamente esquecido por todos os cristãos, independentemente de sua cultura ou do seu local de nascimento. Um símbolo que foi por nós designado a ser apenas mais um adorno em uma árvore que sequer é símbolo próprio do Natal, mas o que é a força de um misticismo? Torna uma árvore mais evidente e mais relevante do que o símbolo que o próprio Deus usou para mostrar aos povos distantes que chegara a hora e onde seria local do nascimento do seu Filho: a estrela de Belém.

Enganam-se aqueles que pensam que significado da estrela de Belém seria um simples guia para os magos que foram inadvertidamente atrás dela. Sua presença no céu significava o fim da magia, o fim do poder do Zodíaco sobre a humanidade. Para entender esse poder mágico precisamos conhecer as religiões que dominavam o mundo naquela época. Pois todas elas lançavam uma mortalha de fatalismo sobre a vida humana. Elas diziam que tudo estava previsto e que ao ser humano restava apenas cumprir a sina para a qual estava fadado. A crença dominante rezava que o destino de todas as pessoas era escrito nas estrelas na hora do seu nascimento. Bom, isso não mudou tanto, porque ainda existem hoje católicos e protestantes que não saem de casa sem consultar os astros.

Foi num mundo assim que a estrela de Belém brilhou. Ela não estava lá por acaso. Ela não era uma estrela qualquer que cumpria a sua trajetória no universo. Ela estava lá para fazer o que o Deus Eterno lhe mandou fazer. Estava lá guiada pela inteligência divina. Justamente aquilo que representava o símbolo máximo da dependência humana é convocado por Deus para revelar ao mundo e principalmente aos que conheciam bem o movimento previsível das estrelas, que existe um Deus que governa todas elas, que as enumera e as chama pelo nome, que pode fazer com que elas executem a sua vontade, mudando radicalmente todo o entendimento que os magos, astrólogos e observadores dos céus acumularam até então.

Como consequência disso, nós fomos libertados dessa sina fatalista pela ação do nosso Deus. Foi ele quem nos libertou. Nessa liberdade ele tem nos lembrado que, uma vez livres do destino, somos guiados à responsabilidade. Agora somos chamados a ir aonde não queremos ir. A amar quem não queremos amar. A servir a quem não queremos servir. Alguém imagina que Maria e José empreenderam a penosa viagem de Nazaré a Belém por vontade própria? Acham que ela supôs que daria à luz numa estrebaria? Alguém imagina que os magos viajaram tanto para adorar um rei que nasceria num estábulo. A estrela brilha para nos mostrar a realidade deste mundo e para mostrar que o nosso caminho é outro, muito diferente do que aquele que gostaríamos que fosse. A mensagem da estrela nos diz que somos livres, está certo, mas que esta liberdade tem o preço e o tamanho da nossa responsabilidade.

Talvez seja a hora de perguntar: O Natal e realmente uma coisa boa de se comemorar? Devemos continuar inculcando em nossas crianças a sua lembrança? O Natal é ou não é uma festa alegre? É claro que sim. Apesar de tudo que foi dito, apesar de sentirmos na pele, em maior ou menor intensidade, estas tragédias, a despeito de toda a maldade que tem imperado ao longo da nossa história, o Natal é a nossa maior garantia de que é Deus, e não as tragédias, que tem a última palavra. O Natal é certeza de todas essas mazelas, por pior que possam nos parecer, podem e devem ser evitadas. O Natal é a firme convicção de que o Deus que se encarnou em Belém, continua vivo, presente e atuante em nosso meio. O Natal é uma garantia sólida, não baseada em hipóteses ou promessas vazias, pois quem nos garante é mesmo Jesus que sofreu todas as aflições e angústias que se transcorreram durante o primeiro Natal. E em meio a toda essa apreensão que o aniversariante nos desafia dizendo: Se o mundo vos aborrece, sabei que antes do que a vós aborreceu a mim primeiro... mas tende bom ânimo. Eu venci o mundo.

Todas aquelas aflições não detiveram o Salvador do Mundo, apenas serviram para tornar a sua vitória ainda mais incontestável. Mas nós sabemos que o mal, embora vencido, ainda respira. E que a vitória de Cristo sobre esse mal se dá a cada dia, com o seu nascimento em nossas vidas. Devemos comemorar o Natal não somente com os seus símbolos próprios ou com aqueles que acrescentamos, ou ainda em uma determinada data do calendário litúrgico. Devemos comemorar o Natal sempre e de todas as formas. Celebrar sem cessar a vitória de Jesus sobre as forças do mal no mundo, como também sobre o mal que habita no mais profundo recanto do nosso coração, porque cada dia que nos esquecemos de comemorar esta vitória é mais um dia que o mal triunfa. E se insistirmos no esquecimento, é possível que venhamos a sucumbir na profecia secular do místico Angelus Silesius, monge católico do século XVII.

Ainda que Cristo nascesse mil vezes em Belém,
Se não nascer dentro de ti, tua alma ficará perdida.
Em vão olharás a Cruz do Gólgota
A menos que dentro de ti, ela seja novamente erguida.

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