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Antes do relógio bater a meia-noite

Antes do relógio bater a meia-noite hoje, todos vamos prestar atenção nele. Mas desta vez vamos vê-lo de maneira bem diferente do que normalmente o vemos. Diferente de quando olhamos para ele quando acordamos, quando temos que pegar a condução, na hora do almoço ou indo a um compromisso. Porque na última noite do ano aquele relógio que usamos sempre vai marcar uma hora diferente, uma hora que tem um sentido bem especial. Isso é bom! Porque em todas as outras horas do ano nós agimos de acordo com ele, seja  para estarmos no tempo certo no lugar certo, seja para encontrarmos alguém, ou mesmo para fazermos algo na hora certa, e isso é ele quem determina. Mas na última noite do ano nós não agimos assim. Nós não vamos a lugar algum. Alguns de nós estaremos na igreja, outros em casa, outros ainda em algum lugar propício para esta ocasião, mas estaremos apenas esperando. O relógio não estará mais mandando em nós. Porque de repente é o tempo que nos move em vez do relógio. 

Os últimos momentos do ano estão chegando e esses momentos são diferentes, porque estaremos tentando ouvir o que normalmente se passa em silêncio. Logo mais, nós ouviremos a voz do tempo falando. Nós estaremos ouvindo o barulho desta noite tão fora do comum. Nós estaremos ouvindo o barulho do Ano Novo chegando, e quem de nós não sente um frio na espinha quando a meia-noite chega? Seria pelo fato de termos uma percepção diferente desta noite da que temos nas outras noites do ano? Sim, mas há razões para isso, e eu gostaria de tentar sugerir algumas. 

Os ponteiros, ou mesmo os dígitos, voltam sempre para o ponto inicial, nunca vão, além disso. Isso faz com que tenhamos a ilusão de que tudo nessa vida se repete. Se o relógio pode, por que nós não? Mas nessa noite nós experimentamos o tempo de uma maneira singular. Nessa noite o tempo se move não mais em um círculo, mas se move numa linha reta. Embora pessoas acreditem que em algum lugar há um relógio gigante que marque a passagem do ano e que ele faz tudo começar de novo, esse relógio não existe. Por isso nós temos que visualizar a passagem do ano como uma linha reta. Uma linha que leva a marca de cada ano que passa. Vamos visualizar essa linha reta do tempo como um corredor comprido e cheio de portas. A cada Ano Novo nós abrimos uma porta nova daquele corredor. O problema é que não existe uma maçaneta do lado de dentro da porta. Não podemos voltar e abrir essa porta e entrar em outra porta qualquer e começar de novo como os ponteiros do relógio fazem. Mesmo que não queiramos admitir, todos sabemos que um dia aquele corredor terá um fim. No fim do corredor chegaremos à última porta, e então veremos que a linha circular do relógio não funciona nesse corredor, que o círculo do relógio não passa de uma ilusão ou de uma fantasia do ser humano. 

O fim de cada um chega. O fim desse ano está chegando e nós sentimos nessa hora o tempo de modo diferente. Sentimos que cada momento de nossa vida é precioso, cada momento é singular e que cada momento nunca mais voltará. Sentimos que o tempo corre para frente e sentimos também que ele corre para um fim. Sentimos que somos finitos, mas carregamos sempre conosco esse conhecimento do fim sem percebermos. Sem estarmos conscientes do fato estamos sempre pensando na morte. E todos fazemos isso a toda hora através de frases curtas e corriqueiras, tais como: eu não tenho tempo, eu não posso agora, estou com pressa. 

Eu não tenho tempo. Eu não posso agora. Estou com pressa. Todas essas frases são comuns e todos nós as repetimos a toda hora. Estamos dizendo com isso que não vamos viver para sempre. Estamos dizendo que precisamos que dividir o tempo limitado que temos. Posso usar o tempo que tenho da melhor maneira possível, mas não posso de forma alguma prolongar esse tempo. Nós podemos reduzir o nosso tempo de vida, mas aumentá-lo, nunca. Quando realmente descobrimos isso é um choque terrível. 

Não quero colocar água no champanhe de ninguém, mas muitas dessas festas de réveillon que acontecem por aí têm a sua origem na nossa necessidade de afugentar a preocupação com o tempo, que de repente aumenta no final do ano. Nem quero também derramar o chopp, mas muito do uso de bebidas alcoólicas para embotar a consciência nessa hora, tem a sua origem no desejo de fugir dos sinais citados nessa meditação. Essa festa é uma espécie de brincadeira para tentar cobrir a ansiedade profunda que nós temos. Não passa de um divertimento que visa mascarar o problema não solucionado de nossas vidas. Então, onde vamos achar as respostas para as perguntas que perturbam a nossa existência? Por que estamos vivos? Para onde caminhamos? De onde viemos? Por que estamos nesse lugar nessa hora? O que é a realidade? A realidade é má e nos guia para a morte ou ela é boa e nos induz à esperança? E as perguntas mais cruciais de todas: tudo terminará bem no fim para os meus queridos e para mim? A vida triunfará sobre a morte ou não? 

Em nosso medo de que tudo não termine bem, nós tentamos de todas as formas um caminho de fuga para não sermos derrotados pela morte. É estranho, mas cada um de nós acha que essa sensação de ser incompleto, essa sensação de ser insatisfeito é somente sua, mas não é não! Todas as pessoas sentem isso. Esse estado de tensão inquietante, de ansiedade constante, de incerteza e insegurança é a condição de quase todo mundo em quase toda hora. Só não percebemos e não queremos enfrentá-la. Por isso é que é tão difícil reconhecermos que essa falta de satisfação é o resultado da nossa separação de Deus, e o fim do ano serve para aumentar bem esse problema. 

Um pensamento muito errado e que deveria ser erradicado de vez das igrejas é o que nos leva a pensar que a alegria e o otimismo estão lá fora na queima de fogos e na confraternização com pessoas estranhas, enquanto que os que se reúnem em culto de vigília ou mesmo nas suas casas devem buscar antes a contrição e o recolhimento espiritual. Mais do que qualquer outra pessoa, o crente em Jesus Cristo que volta para ele o seu pensamento nesse exato momento e que coloca a sua vida nas mãos dele nessa hora deve fazer seu corpo vibrar intensamente de alegria, e por motivos muito mais concretos. Esses conhecem bem a sua mortalidade, conhecem melhor ainda as suas limitações e não negam essa realidade, por isso não tentam fugir dela. Contudo, a ansiedade da morte cessa imediatamente quando nos sentimos seguros nas mãos de quem pode nos dar segurança, o Senhor que é senhor também do tempo. 

Nós estamos em paz com Deus porque ele tem nos aceitado e tem nos amado como nós somos. Estamos em paz por que nós temos aceitado também as nossas falhas, porque todo o nosso passado, todo o mal que fizemos e que gostaríamos de apagar da memória, toda a nossa culpa, toda a nossa vergonha, toda a repugnância que temos de nós mesmos, não podem mais nos separar do amor dele. Foi ele quem acertou tudo, porque foi ele quem nos amou quando não merecíamos. É ele quem estará à frente de todos esses trezentos e sessenta e seis dias do ano que virá. Por tudo isso, tenhamos a certeza de nada poderá nos atingir sem que antes tenha passado pela sua inspeção e pelo seu conhecimento. E quando tivermos percorrido todo o corredor de 20??, quando tivermos passado a última hora, quando estivermos respirando o último ar, a grande verdade é que ele estará nos esperando. 

Paulo dizia que temos essa vitória por meio daquele que nos amou. Dizia mais ainda, que nem a morte, nem a vida; nem a coisa do mundo presente, nem as do futuro; nem os homens e nem os anjos; nem os governos e poderes; nem o mundo que está acima de nós, nem o que está abaixo de nós; nada, absolutamente nada pode nos separar do amor de Deus em Cristo Jesus. Nessa confiança entremos com alegria nesse Ano Novo.

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